Baía de Traição: Conectividade e acesso transformam escola indígena na Paraíba

Nas manhãs de Baía da Traição, o som da maré se mistura às vozes das aldeias potiguaras. Entre ruas de terra e casas coloridas, crianças atravessam a comunidade para chegar à escola, levando consigo não apenas cadernos, mas a força da cultura e da identidade de seu território.

No coração dessa região está a Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental e Médio Pedro Poti, que recebe mais de 450 estudantes de uma das 32 aldeias do município. Mas, apesar da presença física, o acesso ao conhecimento sempre foi limitado: a escola contava apenas com uma conexão via satélite instável, que caía em dias de chuva, dificultando tanto as atividades administrativas quanto o uso de recursos pedagógicos digitais.

A falta de conectividade não afetava apenas a rotina escolar. Alunos e professores permaneciam isolados digitalmente, sem acesso a conteúdos online ou à possibilidade de inovar nas metodologias de ensino. Segundo o Censo Escolar 2024, escolas indígenas, quilombolas ou assentamentos, somam cerca de 294.249 matrículas, mostrando que desafios como os da Pedro Poti se repetem em muitas regiões do país.

Diante desse cenário, a pergunta que surgia era clara: como transformar a educação em locais onde o conhecimento parecia tão distante quanto o mundo digital?

Como a chegada da conectividade mudou a rotina escolar

Para enfrentar esse desafio, a Escola Pedro Poti passou a integrar a fase piloto do Programa Aprender Conectado, da Eace. Uma iniciativa que levou conectividade para 100% das escolas estaduais de Baía da Traição, sendo 17 no total - 13 em áreas rurais e 4 urbanas.

A partir da implantação da internet de fibra óptica, da instalação de uma infraestrutura moderna de Wi-Fi e da entrega de dispositivos móveis, a escola Pedro Poti passou por uma transformação profunda:

• De uma conexão limitada que não suportava sequer a rotina administrativa, a escola passou a contar com conectividade robusta e estável, que agora permite a realização de atividades pedagógicas enriquecidas por recursos digitais.

Com a nova infraestrutura, os professores ganharam ferramentas para planejar aulas mais interativas, utilizando vídeos, imagens e plataformas educacionais online. 

"Antes, fazíamos apresentação de seminários em cartolinas. Agora, criamos planilhas e apresentações digitais com a ajuda da internet." Conta a aluna Clarisse de Lima Modesto, sobre a relação entre alunos e professores ter evoluído com o uso da tecnologia.

A transformação digital da comunidade 

A chegada da internet também impactou a comunidade do entorno. A escola passou a disponibilizar uma rede de visitantes com acesso livre, ampliando a inclusão digital e o senso de pertencimento. Em uma região em que muitos moradores ainda não têm acesso à internet em casa, a possibilidade de se conectar por meio da escola representa um marco de igualdade e cidadania digital.

Segundo o diretor Iratan Ciríaco, a Pedro Poti é a primeira escola indígena da região a ser atendida com conectividade significativa. A nova infraestrutura não apenas melhora a qualidade do ensino, mas também aproxima a escola do mundo. "A internet é mais uma ferramenta que auxilia no aprendizado dos alunos e ajuda muito a escola", destaca.

O professor de física Severino Fernandes da Silva Neto reforça o impacto do novo cenário em sala de aula: "Nem todos têm internet em casa ou celular. A internet na escola ajuda nas pesquisas e no uso de recursos como games. Podemos trabalhar de maneira lúdica, com figuras que facilitam a interação. Esses recursos dão outra dinâmica à sala de aula."

Conectividade e equidade resultam em futuro

Hoje, casos como o de Baía da Traição se tornam referência de como a chegada da conectividade, somada a dispositivos e formação, pode transformar a experiência educacional em territórios que antes estavam à margem do processo digital. 

Como próximos passos, o objetivo é ampliar o uso pedagógico das ferramentas digitais, formar continuamente os professores e fortalecer a inclusão da comunidade escolar e das aldeias no ambiente digital.

Como resultado, a Escola Pedro Poti mostrou que a educação conectada é também uma ferramenta de equidade, cultura e permanência dos estudantes em territórios tradicionais. Nessa região da Paraíba, a internet não chegou apenas à escola: chegou também às relações, às oportunidades e à possibilidade de um futuro mais justo.